25 de janeiro de 2009

Amar o Amor



Sem querer apaixonou-se outra vez! Pela quadragésima primeira vez! Eu sei do que falo, sou amigo chegado, sou o mais próximo de todos. Está pendurado, relegado para a dimensão da leveza, flutua perto do chão sem o tocar. Os sentidos, aqueles que experimentam sensações, não respondem, pausam, na pele, no olhar, no sabor, no cheiro e na voz daquela mulher…

Eu avistei-a um par de vezes: estatura baixa, olhos grandes, tez clara, sorriso maroto... Este tipo de sorriso deixa-me sempre de pé atrás... Ou é de inteligência ou de traição. Nem mais que outras paixões mas menos que muitas! A minha opinião não conta.

Na sua batalha contra o térreo, adora a sensação de pertencer inteiramente a uma mulher, entrega-se como oferenda aos deuses por se terem lembrado dele. De olhos bem fechados atravessa a cortina do real, entra onde quer, e não quer sair. Abre o seu cubículo de atmosfera morna, perfumada, em que a paixão é a essência e o imperfeito é impossível.

Sem que se esgote o prazo, reparo em sinais e em movimentos que indicam aperto (aglomeração de pessoas em lugar pouco espaçoso) se é que me faço entender! De quando em quando fica por lá mais de três anos, mas é coisa rara. Os defeitos aparecem lentamente e a pureza do ar consome-se rapidamente.

Temos uma amiga em comum, por quem já voou, planou e nunca mais pousou. Nunca voaram os dois juntos, por vontade dela! A partir daí passou a estar acima de todas as outras, como um reflexo inquisidor. Certo dia e sem intenção ouvi conversa, e do meio da prosa sai: “…tu não amas pessoas, tu amas o Amor…”. Nesse momento percebi a energia inebriante que ele aplica quando estremece. Reage na tentativa de prolongar o êxtase, recupera-se nas marcas porque só transporta o indubitável.

Como conheço o meu amigo! Até lhe sinto alguma inveja, na agonia porque vai amar outra vez, e na celebração porque se rende e se doa, como que o destino findasse.

Ele respondeu: “…procurarei sem tréguas um Amor em forma de mulher…”

8 comentários:

  1. Será que entre a ficção, o sonho e a realidade vai uma grande distância, em ti? (referindo-me ao texto, claro)
    Abraço.
    (continuo a gostar da maneira ardilosa como movimentas e interligas as palavras. Parabéns!)

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  2. Tem um bocadinho de mim no narrador, um bocadinho no narrado, o resto é ficção.

    Esse "continuo" dá-me um enorme prazer
    Obrigado
    Abraço

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  3. Então, continua... Estás um excelente caminho, acredita. Já ando por estas bandas há ano e meio. (sorriso)

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  4. Como diz a canção: "o Amor é uma loucura quando nele pensamos encontrar a própria cura".

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  5. É mais fácil amar o amor do que simplesmente amar pessoas.
    É um constante idealizar, não mais que projectar no que amamos aquilo que somos, não há amarras, só voos... Claro que quando se cai o tombo é alto, dos grandes, que por vezes marca existências e impede de viver, pelo menos em verdade...
    Amar pessoas custa mais, porque somos humanos, imperfeitos e limitados e a entrega exigida é maior. A dor da queda não é menor, será talvez mais cruel, mais real, dor, enfim, porque só a palavra basta.
    Parabéns pelo blog, belas palavras!

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  6. Obrigado Sara pelo título alternativo...
    Obrigado Sandra T pela interpretação,decifração e pelas palavras

    bjs

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