26 de abril de 2010

"A MINHA" praia

Se fosses uma praia, chamava-te "A Minha". A areia é creme, macia, as pegadas estão todas lá, como sinais em carne. Nunca pensei caminhar tão fundo,  estar enterrado até ao pescoço é bom! Os grãos são mornos, massajam, aquecem e rejuvenescem o meu corpo.
A maré é viva, seis ondas adormecidas, calmas e navegáveis... mas a sétima... enorme, robusta, barulhenta... mas uma força que desperta , tem vezes que vem fria mas depois do choque... Vigora.
Rochedos... Outrora gigantes, hoje escaláveis, pincelam o pastel-azul que os meus olhos sugam, os anos temperaram o granito! Não os quero desaparecidos, antes poisos de descanso e reflexão.
A brisa vem morna e descansa no ouvido, as nortadas já são inconsequentes e aparecem de longe a longe, ainda bem! Tenho na memória fortes rajadas geladas...
No céu nuvens, pouco densas para que o sol não queime, até julgo ser de propósito, levanto os olhos e não ofusco, que bom é caminhar de cabeça levantada... e bailam alterando as formas anunciando futuros apetecíveis.
Avisto mais gente na "Minha" praia, gente da minha terra, todos no seu espaço conquistado, ganho com confiança e amizade. Trazem emoções, dramas e sonhos para serem partilhados, não são raras as vezes que oiço cantar, chorar,ladrar, rir... as idades muitas, as diferenças tantas! São afluentes que desaguam e renascem na "Minha" praia.
Como nas praias da nossa infância havia uma zona de banhos, eu tenho o meu canto que no pretérito perfeito teve fronteiras e muros... Hoje gosto dele só com uma corda em volta, para que possa acolher quem avisto, mas há momentos em que a corda não tem pontas, fecha-se para viver a "Minha" praia, amar a "Minha" praia, mergulhar de corpo inteiro.

PÊSSEGO

o toque dos dedos são pingos de mar, abraços corais para visitar

o olhar de água transparente, serena encanta nunca mente

o cabelo salteado dança com o vento, fios de sol aparecem no firmamento

a boca abre de tanta alma, gargalhada sai mundo acalma

o movimento mistura alegria e elegância, sempre novo com a mesma constância

e rasgas cinzentos com todas as cores, semeias sorrisos cativas amores

a rampa é longa obriga a parar, mas tu voas alto sem pesar

páras o tempo sem ele penar, o teu destino é iluminar

16 de novembro de 2009

INVINCIBLE

Faz parte do alinhamento para o concerto no pavilhão Atlântico ... leiam cantem e sintam...


Follow through
Make your dreams come true
Don't give up the fight
You will be alright
'Cause there's no one like you in the universe


Don't be afraid
What your mind conceives
You should make a stand
Stand up for what you believe
And tonight
We can truly say
Together we're invincible


During the struggle
They will pull us down
But please, please
Let's use this chance
To turn things around
And tonight
We can truly say
Together we're invincible


Do it on your own
It makes no difference to me
What you leave behind
What you choose to be
And whatever they say
Your souls unbreakable


During the struggle
They will pull us down
But please, please
Let's use this chance
To turn things around
And tonight
We can truly say
Together we're invincible
Together we're invincible


During the struggle
They will pull us down
Please, please
Let's use this chance
To turn things around
And tonight
We can truly say
Together we're invincible
Together we're invincible

Olhar de Dentro


No meio da confusão diária de papéis, barulho de impressoras e murmúrios de clientes chegou o momento em que tudo se apaga, os segundos alargam-se e tornam-se intemporais, nesse momento o que o rodeia transforma-se em imagens desfocadas porque utiliza todo sistema óptico para a receber. Chegou. Apesar da confirmação da sua presença, não consegue controlar corpo ou mente, leve tremor nos braços são indícios que nada mudou e a mente antecipa um louco beijo adiado pelos últimos anos.
Dois beijos, um em cada face, ela impõe que a boca fique longe do embate de rostos mas nos olhos parece contradizer-se, ele está ansioso pouco confortável com cara pálida e a boca seca. Não precisavam de falar pois a chama que os une reacende a cada aparição.
Agora caminham lado a lado, a praça pára para ver e suspirar, o bando de pombas desacelera o corrupio com respeito e o sol perfura duas nuvens negras que se abrem como se o vento soprasse em duas direcções. Ficam horas a conversar, a namorar sem se tocarem e mais vontade cresce, e o tempo, esse que corre voraz no prazer e vagaroso na dor, não se alia e quase se desfaz num ápice
Puxam as reticências para que outro episódio comece, e aí, largam as culpas, perduram o desejo e aumentam o contentamento, não foram infiéis, não quebraram compromissos e mesmo assim são um do outro, porque bem perto do fim e do novo começo, nada mais importa. Nunca os vi beijarem-se, o que me é agradável, aproximavam-se as bocas... fechavam-se os olhos.

10 de novembro de 2009

INVICTA


Dia chuvoso, daqueles dias em que o cinzento das ruas fica mais escuro, a pedra húmida é mais negra, nestes dias a cor é rara, seja nas roupas, seja nos rostos. As pessoas vertem movimento de cabeça baixa, o desalento escala até à mente alimentado pelo frio na planta dos pés. Predomina o amarelo o verde e o encarnado dos semáforos que parecem desnecessários tal é a confusão de trânsito. O vento já se encarregou de arrancar o verde das árvores e o frio roubou a tez rosada de outras épocas. Parece que a cidade entrou em coma e nós com ela! Será?...
Dia chuvoso, daqueles em que os paralelos da rua brilham de prata pingada, a pedra parece polida, nestes dias a paleta de cores escurece, como se escolhesse um fato de gala para nos receber. Uma neblina sobre o rio que desvenda pausadamente o equilíbrio entre a força da corrente verde escura e a imponente cascata de granito pingada de amarelo novo, usado no quente do verão. As pessoas vertem movimento, a cidade vive, nós somos o sangue a correr-lhe nas veias, por isso vamos quentes com destino. Não há céu como este, assim que nasceu, bem por cima dos Clérigos, cresceu até à Foz, e lá, juntou-se a um Atlântico revolto de espuma branca. Nasceu cinzento, nasceu da cinza dos que ergueram a cidade. Levantem os olhos e não resistam à tentação deste fascínio nosso.
Quando o deixo, sinto aquele frio na barriga de quem está apaixonado, quando o lembro sinto saudade mas quando o reencontro quero-o molhado e cinzento, o verdadeiro PORTO.

27 de agosto de 2009

Ventos e Oceanos


A linha é tudo menos recta e fôlego perde-se em cada curva, será todavia bom lembrar os ventos e os oceanos, estes, não têm rumo ou fim, baloiçam harmónicos por falta dela. Assim fui eu até agora, livre, pendurado no acaso, sem rumo e com visão turva do futuro, feliz e infeliz.
Tudo tem preço e tem vezes que o preço é muito alto! A solidão tem tanto de regenerativo como de destrutivo, para combate-la teve dias em que vendi a alma para o conforto do corpo, pior, menti a mim mesmo e viciei o pensamento para acreditar que era ali o meu lugar, aquele o meu encaixe, claro que passado algum tempo adoecia, quase apodrecia. Depois para curar tudo, voltava a ela, a solidão regenerativa e ficava guloso a saborear o melancólico das horas o ócio como presente. Não existe na vida nada melhor do que o som do mar no fim de tarde de inverno, o sorriso de uma criança em qualquer situação ou um céu estrelado longe das cidades em noites de verão, estes momentos vivo-os sempre em estado de ressaca da minha própria bebedeira sentimental, deve ser aqui que o meu interior atinge um grau de pureza e leveza extrema que me permite absorver tão profundo o valor do que não tem preço. Porém é conveniente dizer que adoro viver, sintomático mesmo é a regularidade que tenho neste percurso, neste ciclo que faz de mim novo e leve quando se fecha, chamo-lhe vício.
O desafio chegou, estou como nunca estive, estou como disse muitas vezes, mas agora à séria, cabeça ocupada, sem apetite, feliz, doido, falta de ar e uma saudade até quando estou a olhar para ela...olhar para ela... olhar... E fico assim o resto da vida... O olhar... Será? Será a minha vez de ser quase sempre feliz? Espero que os ventos e os oceanos revoltos se convertam num rio sereno e numa brisa de toque leve em pele eriçada. Claro que posso suportar uma tempestade de quando em vez...

19 de maio de 2009

A Noite espera



banho quente e o desejo
espelho confessa o lado carnal
a mente escorre do beijo
ferve o corpo animal

cem roupas na prova
fragrâncias no batedor
o desejo renova
ambição e fervor

um cigarro a meio
uma música de fundo
tem o peito cheio
para agarrar o mundo

aumenta a batida
supõe-se o desfecho
exalta-se a vida
num breve trecho

o último olhar, demora
o pensamento fascina
o frenesim está lá fora
de ouro e platina

confiante e apressado
instinto de fera
com manto decorado
a noite está à espera

Vampirizar


Adoro Vampiros. O poder com que manipulam, a força muscular que não tem limites, a velocidade graciosa na caça, a sensualidade que demonstram na corte e na aproximação, o frio dos corpos que pálida torna as faces, a imortalidade e a superioridade incontestável de nos tornar inextinguíveis. Mas confesso que a minha sedução paralisa de deleite e terror quando imagino o momento exacto de ser sugado, será um momento controverso com certeza, ninguém se zanga se imagino dentes aguçados cravados em alma feminina, é que não consigo idear se não uma vampira sedenta do meu sangue, sedenta de mim, que depois da prova se vicia e morre de amor para sempre, ela imortal, eu imortal, alimento um do outro como forma única de prolongar o fogo, a luz e ultimar o enlace no princípio do infinito. Tenho o meu lado cupidinoso, como tal aponto as minhas flechas untadas no melhor sangue e disparo... Para agora sim, sermos felizes para sempre...

17 de abril de 2009

Está na hora


Está na hora, nada melhor que esta corrente nebulosa, um pouco angustiante que se abateu sobre as nossas cabeças, mas não caiu pesada e de repente, vem lenta e poderosa e desta forma tem mais impacto, sofremos mais tempo, entranha-se devagar e penamos. Digo eu que está na hora porque não podemos mais viver encolhidos neste cerco que se aperta, empurrado por poucos e onde muitos se amontoam e sofrem. Passamos tempo de mais a escolher as armas e tempo de mais a pensar como lutar. Dos mais prevenidos até aos consumistas todos têm menos e este menos não é só dinheiro, e o tempo em família e a insegurança no trabalho e o lazer com qualidade como forma de equilíbrio e as solidões impostas que quebram laços de amizade, e quase todos parecem encontrar forma de se "habituar" a este caos instalado, que no meu entender é um erro em forma de carta branca para que, o que nos rodeia fique na mesma, ou pior?
Está na hora de fazer uma reflexão, olhar para futuro dos nossos filhos, com olhos que não se limitem à situação económica. Concordam comigo que ninguém quer que os filhos, carne da nossa carne e sangue do nosso sangue, siga este rumo a pique para o abismo, esta sede de ambição que está na base do mundo violento e ganancioso, a submissão que hoje impera como resultado de pressões, a hora de jantar que nem sempre tem pai e mãe, as tertúlias entre amigos ou o café no fim da tarde são passado, os "hobbies" que nos fazem mais nós, ficaram para "tempos melhores".
Está na hora de parar, olhar para trás e pensar se realmente ganhamos ou perdemos, se é esta a vida do "sonho", pois é, já não sonhamos, o sonho ficou para poucos. Como costumo ouvir: "...que não falte o trabalhinho e que o dinheiro chegue ao fim do mês...". Um povo que se revoltou há 35 anos perdeu memória, perdeu a luz. O conformismo, a necessidade e o medo vão fazer de "nós" mais pequenos e mesquinhos e eles(filhos) crescem e aprendem com o que vêem!!!.
Está na hora...

22 de março de 2009

PARTIDAS


Sem dormir, encheu-se de coragem, tomou um duche e saiu. Dia cinzento com ar frio e húmido, andar oscilante, próprio de quem precisa de descanso, sem que isso se torne penoso segue até ao carro com a mente leve e transparente, procura nos seis bolsos possíveis a chave, como habitualmente está no último, entra, cinto, cigarro, U2 e vidro entre-aberto pois esta brisa fresca dos primeiros dias de primavera é irrepetível e dura três ou quatro dias, tem cheiro a mar e anuncia o renascimento da terra.
Estrada fora, rolando devagar porque adiantou-se ao relógio, estranha-se porque não é pontual. A ansiedade aumenta ligeiramente, segue todas as placas que dizem aeroporto sem desvios ou hesitações, a sensação de dejá-vu parece antecipar o destino... Engana-se na entrada do parque de estacionamento, mais uma volta e desta pára o carro.
Conscientemente dirige-se para o piso das chegadas, sabe que ela vai partir, mas tenta decifrar a reacção que terá: pressionada, feliz, surpreendida, maravilhada ou espantada. Gasta o tempo nestes pensamentos enquanto bebe um café sentado no snack-bar que está de frente para quem chega de altos voos. Reconhece valor e paixão no que está a fazer, dá o derradeiro gole e sobe...
Sabia que era ali que, mais minuto menos minuto a veria outra vez, não a via há muito tempo, porque duas horas e trinta minutos é tempo infinito para tanta vontade! Sentou-se no lugar mais discreto, neste momento a ansiedade misturada com alegria eram um monstro de tamanho. Já estava no lugar certo porque não se perdem aviões, às vezes perdem-se comboios, autocarros e até amor de uma vida, mas aviões nunca, ele sabia que ela chegaria para partir. O nervosismo comandou-o até ao ar livre, mais um cigarro rápido, entrou de novo, olhou para o relógio e foi à descoberta do local exacto do chek-in. Perdido naquele espaço amplo, cabeça levantada e em voo mental, tenta entender aqueles quadros digitais, repara que a porta de embarque é a 18 e que o sítio para despachar as malas são o 57 e 58, inspira de alívio e desejo. Mudou de lugar, não era assim tão discreto e sentou-se ao longe com olhar cravado nas portas giratórias...
Entrou, cabelo apanhado, que realça os desenhos do rosto, caminhar seguro e um pouco acelerado, camisola clara e ganga, roubou todas as luzes disponíveis e em seu redor tudo escureceu. Ele via tudo sem turvar, contemplou e de seguida procurou o telemóvel e telefonou... A conversa não ouvi, mas vi, ele com passos inseguros aproximou-se, ela deixou para trás o 58 e dirijiu-se para ele, pararam cara-a-cara, beijaram-se na face, conversaram um ou dois minutos, ela surpresa, ele feliz, beijaram-se outra vez... E visto aqui de cima digo-vos: muito melhor do que na sétima arte. Viraram costas, ele já conta as horas para a ver de novo, ela não sei...

15 de março de 2009

TU


Começo a sentir que os dias têm reticências, não se fecha o ciclo e falta tudo o que deve ter para que outro possa começar, Tu. Nos dias que te vejo sinto o mesmo, fico suspenso nos Teus olhos e na Tua boca, depois carrego a imagem sem peso e continuo a achar que a noite não acaba e o dia não começa. Sinto-me imperfeito sozinho, morre metade de mim e metade de Eu mesmo é pouco, custa carregar uma metade inerte, cortas-me a meio quando vais. Quando puder ver-te todos os dias vou querer ser imortal para que nada acabe, vou querer não contar os dias nem as noites e num toque Te torno imortal também. Depois nem vida somos, somos sempre e para sempre, vamos intemporais sem embaraço, existimos nós dois num só, um sol e Tu lua, dou-Te o calor do dia e Tu dás-me a elegância da noite, sem horas sem tempo sem morte. Não temo o dia seguinte porque num qualquer vais lá estar e Eu vou viver inteiro outra vez. Só por Ti. Não Me adies.

4 de março de 2009

BALCÃO


Cinco lugares. Um balcão. Abrótea assada, jardineira, lasanha, quiche de frango e tarte de atum. Cinco pratos.
O Senhor Gonçalves ou "tio", é assim que toda a gente o chama, acanhado de corpo com pernas arcadas, cabelo branco, bigode farto e olhos de criança, tem sempre alegria que dispara gratuitamente, na anedota ou no comentário é sempre incisivo. A Dona Fátima ou "Fatinha", viúva de preto, óculos pendurados na ponta do nariz, cara miudinha com queixo bicudo e sorriso que faz parte do conjunto, adora as piadas do "tio" e responde com aquela maldade que sabe bem, corpo cheio que acaba agudo de tão pequeninos pés. O Senhor Paulo ou "Paulinho", fato e gravata, o mais novo da fila, tez morena, cabelo meio esfrangalhado, nariz bico de papagaio, ar de galanteador, sorriso franco, mais ouvinte que locutor, dá atenção a todos. A Margarida ou "Gui", a roçar os quarenta, olhos verdes de mar, pele morena de base, cabelo preto brilhante de cabeleireiro, dentes brancos como folha em branco mas lustrada, partilha o cheiro a perfume para lá do balcão, suspira pelo fato e pela gravata, gosta da conversa apimentada. O António ou "Toni", calvície precoce, fraldas por fora das calças e sacola ao ombro, um verdadeiro homem da informática, temperamento sereno, informal e relaxado, é contraponto e marcador de tempos.
A oralidade corta obliquo: jornais, música, meteorologia, afectos, interesses e às vezes sexo! Desorganizados tem horas que se fazem três ou mais conversas, encavalitadas! Escassei-a o mastigar e os pratos resfriam.
O relógio empurra os ponteiros, durante cinquenta e cinco minutos estes cinco mundos fundem-se, unem-se com os cotovelos colados no balcão. Não há tempo a perder e sem querer e sem forçar são todos positivos, diferentes e jubilosos. O segredo está na diversidade e na tolerância. Não há tempo a perder mas amanhã repete-se?! Sim, mas amanhã vem longe...