2 de fevereiro de 2009

O ÚLTIMO DIA ( parte I )



O dia arrasta-se lento. Já começou tarde, e mesmo tarde, parece comprido demais para quem não sente as pernas. O peso segue no mesmo rumo, empurra-se demorado, desce e fere tudo por onde passa. Que leve corpo escravo do pensamento devoluto, que do estéril reproduz e se transforma em monstro desmedido.
Brisa sem quente sem frio, que não passa, estala nas mãos, murcha os lábios, sempre de frente, venta sempre de frente. Corpo frio em esforço, pesado de nada, pesado de tudo que que as palmas não sentem. No fundo os pés, um à frente do outro, e por baixo cinzento molhado, veloz e desfigurado, chão. Venta sempre de frente, olhos abertos, cabeça baixa e cinzento molhado, chão.
Carência de caminho, sem casas, sem passeios, sem peões, sem luz, sem paragens, só linha contínua, contra o vento, contra o tempo que não corre nem pára. A sombra que atormenta, nasce sem sol e cresce, cresce, cresce e pesa.

Segue na frente, escurece o cinzento, aumenta o sacrifício, mas comanda em pontas de veneno. Procurou, procurou no vazio, procurou na amplitude negativa, no breu, e achou! Portada negra de ferro sujo. Bateu com estrondo, começou a extinguir-se e desapareceu, a sombra. O corpo, cativo, dominado e arrastado, nem som nem toque.

2 comentários:

  1. Só te falta a banda sonora que "criei" para "O Livro do Ano"... Já ouviste? (versão FM)
    Se tiveres curiosidade vai ao blogue Livro do Ano e... Sente.
    Abraço.

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  2. Já ouvi há varios dias e várias vezes, está muito bom.

    Abraço

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