2 de fevereiro de 2009

Pôr-do-Sol



Chegamos lado a lado, demos as mãos e seguimos, a par marcamos a primeira pegada, uma minha e outra dela, continuamos... Areia húmida, pensei: os Deuses juntaram-se e com um leve sopro pentearam toda a praia, todas as praias, porque não sabiam qual é a nossa!
Nós e o silêncio humano. As ondas breves, cadentes e quase mudas, com um sussurrar que era carícia, mimo, beijo na face. Como lençol curto, deixavam a descoberto pontinhos de pedra em forma de beijos largados por sereias como boas-vindas.
Frio, o dia mais frio, mas seco não chorado, (se fosse a pedido não tinha sido tão exigente) e o olhar confirmava! Nem viva alma, nem cascos a fazer aquele corte artificial na água que se prolonga mais do que queremos ver, nada, só uma tranquilidade que nos mitigava a mente, só nós e as marcas que tatuamos com os pés naquela pele lisa, bege. Sem dor.
Dava ares de trono! Rocha esculpida, perdida entre as demais. Encontrada, por ela, como se soubesse que ali nascera, sem empeçar, sentou... Coisa certa! Era ali o seu lugar! Olhar no mundo, serena, pronta para a primeira vez, tive a sensação que tudo estava no seu lugar. Ela, o Mar e o Sol, e o meu olhar a olhar para o olhar dela a olhar tudo isto.
Faltava um palmo, era o que separava o Astro do seu banho. Pujante, laranja de vigor, fervilhava de feliz, aproximava-se o descanso, o sono merecido. Chegava a casa.
Pairamos, tudo parou e quase o mar calou... O céu limpou de aves e nuvens, o vento sossegou e pôde respirar fundo para novas viagens, eu estarrecido com medo de falhar e até a linha do horizonte se pôs mais horizontal! Iniciou...
O regaço de uma Mãe a acolher um filho, devagar, e ele a presentear com calor e a temperar os seus braços de água, derretiam-se de ternura, e assim foi, lento, pausado, belo... E eu lento, pausado, mergulhado no olhar dela, e nós lentos, pausados, deslumbrados com a encenação... Aconchegou-se todo, entregou-se sem reservas.
Como despedida, presenteou-nos com fios ténues de vermelho alaranjado, que acenavam melancólicos e imortais. Persistimos para lá da intenção, degustamos lentamente, viramos costas... Já uma bela senhora se engalanava para uma noite cheia!
Demos as mãos e seguimos.

11 comentários:

  1. Escreves muito bem,belo texto mesmo.
    Beijos

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  2. Que essa "guerra" te tenha proporcionado raios de sol com... Paz.
    Abraço.

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  3. Muito Obrigado Joana
    bj

    Foi estonteante
    Obrigado FM
    Abraço

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  4. Bela descrição...O Pôr-do-sol tem a magia e o encanto de duas extremidades que se tocam: dia e noite, daí a magia que transmite. Que saibas sempre aproveitar o pôr-do-sol!

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  5. Muito bonito, este pôr do sol. Gosto particularmente das tonalidades e do enquadramento das palavras.

    Abraço

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  6. Obrigado Sara, é um momento de fusão, abraço, breve.
    bj

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  7. Muito obrigado paulofski,
    Sê bem-vindo.

    Abraço

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  8. P.S. - O Pôr-do-Sol é o da foto do meu perfil, tirada por mim. Praia de Valadares!

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  9. Deve ter sido um grande momento! Que se repitam, sempre! Nesse ou num outro local qualquer!

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  10. Cheira-me que andas nos "cortes"... (risos)
    Abraço.

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