16 de novembro de 2009

Olhar de Dentro


No meio da confusão diária de papéis, barulho de impressoras e murmúrios de clientes chegou o momento em que tudo se apaga, os segundos alargam-se e tornam-se intemporais, nesse momento o que o rodeia transforma-se em imagens desfocadas porque utiliza todo sistema óptico para a receber. Chegou. Apesar da confirmação da sua presença, não consegue controlar corpo ou mente, leve tremor nos braços são indícios que nada mudou e a mente antecipa um louco beijo adiado pelos últimos anos.
Dois beijos, um em cada face, ela impõe que a boca fique longe do embate de rostos mas nos olhos parece contradizer-se, ele está ansioso pouco confortável com cara pálida e a boca seca. Não precisavam de falar pois a chama que os une reacende a cada aparição.
Agora caminham lado a lado, a praça pára para ver e suspirar, o bando de pombas desacelera o corrupio com respeito e o sol perfura duas nuvens negras que se abrem como se o vento soprasse em duas direcções. Ficam horas a conversar, a namorar sem se tocarem e mais vontade cresce, e o tempo, esse que corre voraz no prazer e vagaroso na dor, não se alia e quase se desfaz num ápice
Puxam as reticências para que outro episódio comece, e aí, largam as culpas, perduram o desejo e aumentam o contentamento, não foram infiéis, não quebraram compromissos e mesmo assim são um do outro, porque bem perto do fim e do novo começo, nada mais importa. Nunca os vi beijarem-se, o que me é agradável, aproximavam-se as bocas... fechavam-se os olhos.

2 comentários: