10 de novembro de 2009

INVICTA


Dia chuvoso, daqueles dias em que o cinzento das ruas fica mais escuro, a pedra húmida é mais negra, nestes dias a cor é rara, seja nas roupas, seja nos rostos. As pessoas vertem movimento de cabeça baixa, o desalento escala até à mente alimentado pelo frio na planta dos pés. Predomina o amarelo o verde e o encarnado dos semáforos que parecem desnecessários tal é a confusão de trânsito. O vento já se encarregou de arrancar o verde das árvores e o frio roubou a tez rosada de outras épocas. Parece que a cidade entrou em coma e nós com ela! Será?...
Dia chuvoso, daqueles em que os paralelos da rua brilham de prata pingada, a pedra parece polida, nestes dias a paleta de cores escurece, como se escolhesse um fato de gala para nos receber. Uma neblina sobre o rio que desvenda pausadamente o equilíbrio entre a força da corrente verde escura e a imponente cascata de granito pingada de amarelo novo, usado no quente do verão. As pessoas vertem movimento, a cidade vive, nós somos o sangue a correr-lhe nas veias, por isso vamos quentes com destino. Não há céu como este, assim que nasceu, bem por cima dos Clérigos, cresceu até à Foz, e lá, juntou-se a um Atlântico revolto de espuma branca. Nasceu cinzento, nasceu da cinza dos que ergueram a cidade. Levantem os olhos e não resistam à tentação deste fascínio nosso.
Quando o deixo, sinto aquele frio na barriga de quem está apaixonado, quando o lembro sinto saudade mas quando o reencontro quero-o molhado e cinzento, o verdadeiro PORTO.

1 comentário:

  1. Que bem, o menino ter regressado. Faz falta, a sua escrita.
    Abraço.

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