Se fosses uma praia, chamava-te "A Minha". A areia é creme, macia, as pegadas estão todas lá, como sinais em carne. Nunca pensei caminhar tão fundo, estar enterrado até ao pescoço é bom! Os grãos são mornos, massajam, aquecem e rejuvenescem o meu corpo.
A maré é viva, seis ondas adormecidas, calmas e navegáveis... mas a sétima... enorme, robusta, barulhenta... mas uma força que desperta , tem vezes que vem fria mas depois do choque... Vigora.
Rochedos... Outrora gigantes, hoje escaláveis, pincelam o pastel-azul que os meus olhos sugam, os anos temperaram o granito! Não os quero desaparecidos, antes poisos de descanso e reflexão.
A brisa vem morna e descansa no ouvido, as nortadas já são inconsequentes e aparecem de longe a longe, ainda bem! Tenho na memória fortes rajadas geladas...
No céu nuvens, pouco densas para que o sol não queime, até julgo ser de propósito, levanto os olhos e não ofusco, que bom é caminhar de cabeça levantada... e bailam alterando as formas anunciando futuros apetecíveis.
Avisto mais gente na "Minha" praia, gente da minha terra, todos no seu espaço conquistado, ganho com confiança e amizade. Trazem emoções, dramas e sonhos para serem partilhados, não são raras as vezes que oiço cantar, chorar,ladrar, rir... as idades muitas, as diferenças tantas! São afluentes que desaguam e renascem na "Minha" praia.
Como nas praias da nossa infância havia uma zona de banhos, eu tenho o meu canto que no pretérito perfeito teve fronteiras e muros... Hoje gosto dele só com uma corda em volta, para que possa acolher quem avisto, mas há momentos em que a corda não tem pontas, fecha-se para viver a "Minha" praia, amar a "Minha" praia, mergulhar de corpo inteiro.